Asas de papel - Capítulo 4

Eu,por mais uma vez,acordei,mas dessa vez ao som de uma música melancólica,uma música chamada dor,não só a dor física do esforço da noite passada,mas,além do meu cansaço mental,eu estava preocupado,e me sentia sozinho.Já fazia uns dez minutos que estava acordado,não queria pensar naquelas coisas,sonhos ruins,maus pensamentos.Emily,pelo visto,passou a noite aqui de novo,visto que ela estava sentada no chão do meu quarto com um livro. Só percebi isso porque ela se levantou,me olhou preocupadamente e checou meu estado:

- Como está? – perguntou enquanto apertava minha mão.
- Do mesmo jeito que estava antes. – Me levantei e dei um beijo na testa dela.
“Eu estou bem”,mais uma mentira contada. Já estávamos às vésperas do natal,eu preferia nem pensar em como seria minha noite,ou como seriam minhas festas de fim de ano.Fiz com que Emily se sentasse do meu lado,enquanto me deitava sobre as pernas dela,fechando calmamente meus olhos.Senti os lábios dela tocarem os meus,me senti mais seguro. Nem sei o motivo para tal tristeza,acho que o fato de pela primeira vez parar pra pensar que eu quase fui espancado,que poderia estar sem a Emy agora me enlouquecia.Estremeci.Acho que não deveria pensar nisso enquanto beijava ela,ou em qualquer outra coisa
-Eu te amo – ela disse.
-Eu também – respondi.
Me levantei e fui tomar um banho,tinha suado muito à noite.Decidi ligar pra Matheus assim que saísse do banho.Ainda com a toalha caída sobre o pescoço e corpo ainda úmido,peguei meu celular logo que pude e liguei pra Matheus,eu realmente não sabia o que dizer.Quem sabe eu não diga algo como “Você estava lá ontem à noite?”,ou quem sabe “Você teria um clone com aparência diferente?”.Mesmo assim não hesitei em ligar,podia ouvir gritos ao fundo,ele definitivamente estava na academia.
- Matheus? – Perguntei inseguro.
- Ah,oi,Jorge. – De certa forma ele pareceu surpreso.
- Tudo bem,cara? – Perguntei enquanto erguia minha cabeça na tentativa de encontrar alguma coisa pra fugir do assunto.
- Na medida do possível – Ouvi risos – E você? – Aquela pergunta soou mais como “O que você quer?”.
- Meio dolorido,problemas noturnos... – Brinquei.
- Problemas noturnos,hein? – Gargalhou.
- De qualquer forma,estou pensando em reunir os amigos na festa de natal,apesar de ser algo em família...
- Jorge,meus amigos são minha família! – Eu melhor do que ninguém entendo essa dor – Além do mais,eu só tenho o meu irmão!
- Você tem um irmão? – Mudei um pouco o rumo da conversa.
- Sim,ele também é do parque das rosas...meu irmão gêmeo,sabe? – A voz dele mais uma vez ficou melancólica de repente.
- Entendi... – Tentei sair daquele clima – Legal,você tem um irmão gêmeo do bem!
- Ah,eu nem sou tão mau assim! – Brincou
 - Então,estamos combinados? – Perguntei acanhado.
- Claro,lá pelas oito eu passo aí,e vejo todo mundo,certo?
- Lógico,vai ser muito bem recebido! – Debochei.
- Então tchau,tenho um dia cheio hoje! – Resmungou.
- É melhor do que cair no tédio.
- Se é...
- Mas então,tchau,nos vemos à noite! – Desligando o telefone logo em seguida.
Greg e Emy estavam aqui em casa,espantado,eu disse:
- Greg,eu tenho medo de perguntar,mas por que você está andando com um bicho morto pela casa?! – Perguntei,encabulado.
- É pra ceia,horas... – Disse ele calmamente.
- Greg,isso é uma galinha... – Apontei para o pobre cadáver.
Greg olhou calmamente para o animal,olhou me como se nada estivesse acontecendo e falou:
- Droga... – E colocou-se a andar pela casa com o cadáver de novo.
Me deitei no sofá,lendo uma revista,pensando em que outros preparativos devíamos fazer,tentando inutilmente parar de sentir pena da ave.Resolvi sair pra pegar algumas taças para a festa natalina com um tio,levei alguns minutos lá.Entramos no carro e nos dirigimos à casa de uma tia,onde pegaríamos as taças e talheres para a ceia.Enquanto naquela brincadeira de tira e põe de vidro,meu celular tocou,coloquei a mão direita no bolso e o procurei pelo pequeno objeto.Não conhecia aquele número de telefone,todavia atendi à chamada prontamente.
- Eu chego amanhã – Eu conhecia aquela voz,definitivamente.
- Sabrina? – Me espantei.
- Não,aqui é o coelhinho da páscoa pra saber que tipo de chocolate você quer pro ano que vem,garotão! – Ela pronunciou “garotão” como se estivesse glorificando-me por algo que eu tinha feito.
- Meio amargo,Sam,como sempre. – Debochei com certa intimidade – Mas que história é essa de “Eu chego amanhã”?
- Vou me transferir,vou morar em Belo Horizonte,aí com vocês,já peguei a transferência,uma escola chamada “Parque das Rosas”,ao que parece. – Falou com certa seriedade.
- P-parque das rosas? – Minha voz falhou.
- O que foi? – Pareceu preocupada.
- Nada de mais,é só que muita gente que conheço vai pra lá... – Me sentei num sofá próximo,confortavelmente,e só depois continuei. – Não conte pra Emily,mas até eu pretendo ir pra lá.
- Jura? – Sua voz demonstrava certa ansiedade.
- Sim,vamos organizar uma festa de natal,hoje...Isso se minha mãe quiser dar uma ajudinha... – A segunda frase soou desanimada.
- Ainda temos tempo pra festa de fim de ano,certo? – Perguntou inseguramente.
- Claro! – Retruquei.
- Bem,preciso ir,à muito o que resolver antes da minha chegada gloriosa!
- Que horas você chega? – Perguntei com anseio.
- 18:00 – Disse ele com um tom alegre – Mas não diga nada pra Emily,quero que seja uma surpresa!
- Ah,agora entendi o motivo pra ligar pra mim! – Meu entusiasmo aumentava. – Pode deixar que levo ela direitinho – Concluí.
- Mas vai estar lá,né?
- Claro.
- Então,até amanhã!
- Até.
Logo que desligamos me lembrei que Greg tinha algo à me dizer,mas não disse,a companhia de Lorena deve tê-lo desarmado completamente.Pensei em ligar para ele,mas a festa de natal seria propícia para a conversa. Me levantei e me preparei para levar as taças até em casa,a volta pra casa foi bem tranquila. Greg ainda se ocupava com os preparativos da ceia,a minha família estava ali,ajudando em tudo,mas pra mim sempre foram como se não estivessem.Sempre fui péssimo cozinhando,então entrei no meu quarto e resolvi jogar vídeo-game ou qualquer outra coisa que não fosse cozinhar,aquilo me subiu à cabeça. Enquanto me sentava,pensava sobre Matheus e seu irmão,e sobre o que ele quis dizer com “Eu só tenho o meu irmão”,aquilo soou como se ele fosse sozinho no mundo. Por um momento senti um aperto no peito,pensava se podia ser mesmo o que eu pensava,haviam muitas perguntas sem resposta...Eu olhava pro teto,pra algo que chamamos de “nada”,e pensava no que fazer a seguir.Ouvi alguém bater na porta:
- Posso entrar? – Era a voz da Lorena,tinha de ser.
- Entre. – Respondi.
Ela abriu a porta do meu quarto,acompanhada de João,que se e inclinou,encostando na porta.
- Como está? – Ela disse enquanto me dava um beijo no rosto como cumprimento.
- Ah,o tédio aumentou,mas nada que não se resolva... – Respondi enquanto sinalizava para que João se juntasse a nós.
- E aí – João disse enquanto abraçava Lolly,sentada sobre minha cama.
- Ah,estou bem,nas compras do natal,os supermercados estão lotados... – Disse enquanto abaixava sua cabeça em sinal de cansaço.
- Passe a tarde aqui,temos coisas pra fazer enquanto preparamos a ceia,não é má idéia. – Sugeri.
Ela olhou para João pensando na proposta. Ele a olhou em sinal de aprovação.
- Claro,por que não? – Respondeu.
- Já sei! – Levantei em sinal de animação.
Corri até a cozinha,peguei alguns ingredientes em porções exageradas,me virei par ambos,que ainda chegavam à cozinha e respondi:
- Brigadeiro! – Sinalizei levantando uma colher.
- Oba! – Lolly respondeu em meio à risos.
- Eu também quero. – Emily apareceu para nos acompanhar.
- Mas tem que ser muito brigadeiro,eu quero passar mal! – João respondeu.
Gargalhamos,mas no final,obedecemos: fizemos muito brigadeiro e pegamos uma comédia qualquer para assistir. Nos sentamos na sala e colocamos o brigadeiro no chão,enquanto comíamos e gargalhávamos,nos divertimos muito naquela tarde.Quando a guloseima à nossa frente acabou,não hesitei em perguntar:
- Alguém quer jogar Tekken? – Sorri.
- Quem perder faz o próximo brigadeiro. – Emily entrou na brincadeira.
- Ah,droga – Corri para o quarto. Lolly e João nos acompanharam.
Alguns minutos depois e já estava quase anoitecendo,e a única refeição que fizemos foram os brigadeiros,acabamos com todo o leite condensado de casa,mas valeu a pena...eu acho...
Em meio à emoção da partida contra João,pude ouvir Emily se levantar.
- Lolly,vou sair um pouco,vou comprar umas coisas,me acompanha? – Disse enquanto a olhava por cima dos óculos.
Lolly,em pé,se virou e correspondeu balançando a cabeça positivamente.
- Ok,logo encontramos vocês. – Completei,recebendo um beijo de Emily.
Naquele clima,sentado no meu quarto com João,surgiu o assunto:
-Hey,Jorge,você ama muito a Emy,né? – João disse timidamente.
- Claro,ela é tudo pra mim. – Sorri pelo canto dos lábios.
- Isso é legal,ver vocês dois apaixonados e coisas assim... – Completou.
- É,eu acho que sim,ela sempre está comigo nas horas difíceis... – Olhei rapidamente para meu relógio de parede e ele já marcava 19:00 – Oh,droga! – Exclamei. – Os convidados já vão chegar,preciso de arrumar! Vou tomar um banho e você vai logo depois,pode ser? – Perguntei.
- Claro,como quiser. – Confirmou.
O banho não foi demorado,em alguns minutos eu já saída do banheiro com a toalha jogada sobre minha cabeça,trajando uma camisa preta e uma calça jeans. João assistia à um programa de entretenimento qualquer,com uma toalha azul jogada sobre um dos ombros.
Tão logo quanto saí do banheiro,ele entrou para tomar o seu banho,me sentei no sofá pra calçar o meu tênis,ainda com a toalha jogada sobre os cabelos. Tirei a toalha da cabeça e,assim que me abaixei para calçar o meu sapato,Lolly e Emily adentraram o pequeno apartamento.
- Oi,amor – Disse me cumprimentado.
- Oi – Correspondi com um sorriso.
- O João ta no banho? – Lorena perguntou enquanto remexia sua bolsa atrás de roupas apropriadas.
- Sim – Respondi.
- Amor,preciso passar em casa e tomar um banho,volto assim que puder. – Emily disse enquanto acariciava meu rosto.
- Claro,mas não demora,hein! – Exclamei.
Lolly se sentou ao meu lado e me acompanhou naquele programa em que mal sabíamos do que se tratava. Mantive meu cabelo bagunçado,Emily o adorava daquele jeito,o ar louco a entusiasmava,deduzo.
- E aí – Gregório entrava logo que podia,já estava pronto para a ocasião.
- Fala... – Respondi.
- Dá só uma olhada em quanta gente veio – Apontou com o indicador para a janela.
Fui até lá ver como estávamos,casa cheia,tios,tias,primos,primas e amigos esbanjavam alegria,definitivamente,era uma ceia de natal. Me virei com um sorriso para Greg e Lolly,que corresponderam de igual maneira.

7 comentários:

Sho disse...

"João,que se e inclinou,encostando na porta." eu faço isso msm x.x ...foi tenso essa parte qndo eu li
mas a fic ta muito boa \o/
continua escrevenu \o/
(vc tbm acerto no "timidamente" pq eu so timido pa carai T.T)

Ayumi disse...

Brigadeiros *-* e...uma galinha morta x-x
a fic ta muito boa \o/
continua escrevenu \o/²²

Láu disse...

*_____*'

Eu sei que demorou para eu ler
(porcaria de teste de matematica -.-)

Mas a fic tá intressante. Continua o/

Gabrielle Correia disse...

Muito boa cara! continua, fico mais curiosa a cada dia!

Akagitsune disse...

festa de natal à base de brigadeiro :D~ está muito bom mesmo!
Cada capítulo é uma surpresa para mim e com vc escrevendo me sinto como se transportasse para a cena.
Não pare de escrever \o/ \o/ \o/

bj õ/

Sabrina Pires disse...

Ave mortaa /o/ hasuhsau
Mto engraçado xD
Adorei o cap, qdo cheguei no fim me perguntei " mas jah acabou? ç.ç" Quero maaais! /o/

Fiquei curiosa , maais curiosa do que tava antes.

Confesso que parte da curiosidade eh pela minha "estréia" na fic xD kkkk

Enfim... Adoro a fic *-* vc escreve beem *-*

Posta logo õ/

By:Saah;*

Mandy disse...

continua.
Tambem quero me entupir de brigadeiro!!!