Asas de papel - Capítulo 6

Abri meus olhos lentamente,fato que nunca percebo quando acordo,ou que ninguém percebe quando acorda,é sempre a mesma coisa,pelo menos eu acho.Dei meu primeiro suspiro enquanto acordado,me preparei para me levantar,procurei por Emily,aparentemente já tinha acordado,já que ela na estava ali,pensei.

- Vamos lá! – Tentei parecer animando,gritei bem alto.Fui ouvido,pude ver a cabeça de Lolly,aparecendo na porta do quarto com uma sobrancelha levantada,me olhando. “Preciso me levantar”,”Rápido,rápido”,eu pensava,mal podia esperar por aquele dia. Levantei-me em uma só tacada,senti o cobertor se enrolando em meu pé e me lembro de ver tudo subindo,não,eu estava caindo,beijei o chão. Até que ele beija bem. Saí daquela posição e fui checar se realmente não havia me machucado. Não cortei minha boca nem tampouco meu rosto,mas confesso que doía um pouco,pude ouvir risos da minha cozinha,parece que fui notado,fui tão sorrateiro...
Peguei minha toalha amarela,pendurada,coloquei nos ombros e caminhei até o banheiro. Nesse trajeto,já forjado,cumprimentei João,sentado no sofa nos braços de Lolly,também atendi aos modos de boa educação com ela. Ah,o velho sofá xadrez... – Parei para um momento de nostalgia,dos muitos beijos que tinha dado naquele sofá,do primeiro ao último,me lembrava de cada detalhe – Deparei-me com minha mãe parada na cozinha,com sua típica xícara de leite.
- Bom dia,mãe – disse enquanto caminhava para pegar uma xícara para mim também.Nesse caminho vi Emily parada:
- Muito bom dia,amor – Ela disse isso a mim,enquanto pegava meu rosto e me beijava,nada mais que tocava seus lábios nos meus,sorrindo,logo após.
- Bom dia – sorri,olhei para a janela escancarada,o sol de verão típico brasileiro,olhei de novo para ela,com um sorriso amimado,e propus:
- Caminhada no parque? – Fiz essa pergunta olhando-a por detrás dos ombros,enquanto colocava uma xícara de café. Ela pegou a sua xícara de café – café esse que para ela era fundamental – colocou-a na altura do rosto,enquanto tentava resfria-lo com seu sopro.
- Claro,mais tarde,o Matheus ligou,disse que quer sair com você tão logo quanto possível. – ela me olhou,confusa.
- Certo,vou tomar um banho e depois ligo pra ele de novo – abri a porta,olhei para ela,atento,completei – você está sendo uma secretária muito eficiente. – Brinquei,fechando a porta.
-Espero ser recompensada logo. – Entrou na brincadeira.
Me lavei rapidamente e saí do banheiro,minha mãe foi tomar café com todos lá embaixo,estranho,porque ela já tinha tomado sua típica xícara de leite. Emily,parada em frente à geladeira me olhava,da mesma forma que eu a olhava,adentrei a casa,observado Lolly e João que estavam no sofá,vendo algum programa qualquer. Abri a porta de madeira e me sentei,em frente ao meu computador,coloquei a execução de algumas músicas enquanto olhava meu e-mails,nada na caixa de entrada,como sempre,resolvi me deitar um pouco,me levantei,estava tocando “Breakdown”,eu gostei da música,nunca tinha parado para ouvi-la, “É uma música interessante”,pensei,enquanto me sentava na cama,me virando e abrindo a janela. Suspirei,me joguei na cama e me coloquei a pensar no que eu faria naquele dia,e sobre o que Matheus tinha me dito,”Thunderbolts”,o que será que é isso? Bem,cedo ou tarde eu iria descobrir,de qualquer forma. A chegada de Sabrina também me preocupava,será que isso tudo vai acabar bem? Perguntas,perguntas e mais perguntas...Senti meu celular tocando,me sentei,o tirei do bolso e vi,era uma chamada de Bruno,atendi e coloquei o aparelho no ouvido,dizendo saudosamente:
- E aí, Rocky! – Lembro que ele me disse que era do clube de boxe do Parque das rosas,acho que foi um trocadilho no mínimo infame,enquanto corria para deligar as caixas de som.
- E aí,meu querido! – Disse em tom animado. – Topa sair hoje? Eu,você,Matheus,Emily? – Ele disse tão rapidamente,que pensei que ele estaria me dando uma notícia ruim,afinal,notícia ruim chega rápido.
- Claro,mas,voltamos antes das dez? – Perguntei,pensando na chegada de Sabrina.
- Não vai demorar,fique tranquilo – Conclui.
- O avô de Matheus vai nos levar,podemos passar aí lá pelas 15:30? – Perguntou.
- Claro – Confirmei.
- Tudo bem,então,qualquer imprevisto e eu te ligo,pode ser? – Formalidades,formalidades triviais.
- Claro,até lá então. – Decidi,apesar de não responder por Emily.
- Falou! – Ele desligou o telefone,meio rápido até,parecia nervoso.
Decidi me levantar,saí lentamente,largando a preguiça que restara e me dirigi até a escrivaninha onde estava meu computador. O desliguei. Segui até a sala para pedir a aprovação de Emily para irmos:
- Vamos sair com o Matheus e Bruno? - Perguntei a ela.
-Claro mas...e a Lolly e o João? – Ela perguntou olhando pra eles
- Eu estou saindo logo – Lolly se levantou e sorriu. – Ajudando-me
- Então,é,claro. – Sorriu pra mim,enquanto pegava minhas mãos e me beijava. Resolvi me arrumar.
Entrei no quarto de novo,trocando de roupa,uma bermuda branca e vermelha,e uma camisa preta eram suficientes,acompanhadas de um tênis. Peguei meu pendrive como prevenção e minha carteira,eu estava mais que pronto. Avistei logo que saí João e Lolly saindo,e eu duvidava que fosse pra casa,sorri disfarçadamente. Peguei a mão esquerda de Emily e sorri, a puxando pra fora.Estávamos no quintal. Andamos até o portão,acompanhando Lolly e João. Eles saíram,esperamos por Matheus por alguns minutos,logo,percebemos que ele estava à nossa frente,ali,na porta de casa,eu pelo menos não percebi quando ou como ele se aproximou,apenas que estava ali.
- E aí. – Ele disse,enquanto estendia uma mão.
- Como está? – Perguntei,com o sol batendo sobre meu olhos,sem conseguir ver o rosto dele direito.
- Não muito bem,mas isso passa - Ele disse,enquanto tentava sorrir.
- O que houve? – Perguntei, indiferente.
- Pode ir a um lugar comigo enquanto a Emily espera o Bruno? É importante,e só vamos sair mesmo à noite...
Não entendi,olhei para Emily e ela estava tão bem resolvida quanto eu.
- Por mim tudo bem,só não demore. – Ela não pareceu desapontada,mas não consigo negar o fato de que preferia não ir.
- Então...vamos... – Me levantei e então pude ver o rosto dela direito.
Andamos até um ponto de ônibus perto de casa,apenas á alguns metros,dobrando a esquina,na avenida. Andei calado até lá,pude ver que Matheus parecia nervoso,desapontado.
- Não se preocupe,vamos a um lugar,eu pago a sua passagem até lá,e a volta também. – Cada uma daquelas palavras soava irritada.
- Tudo bem. – Decidi que era melhor não me manifestar por enquanto.
Logo que chegamos ao ponto de ônibus,ele soltou:
-Não se preocupe,nós só vamos a uma floricultura,e depois ao cemitério...- Abaixou sua cabeça por um momento,depois olhou para o horizonte,provavelmente à procura da nossa condução.
-Tudo bem...- Tentei ver seu rosto,mas não o vi.
-Acho que você deve saber de tudo,mas vou te contar quando chegarmos lá... – Ele olhou pra mim e tentou sorrir,em vão.
-Tudo o quê? – Fiquei sério.
- Naquele dia,na quadra,o incidente do qual te tiramos. – Ele retribuiu minha seriedade. – Era para aquela briga ser nossa. Você estava lá perto enquanto treinávamos,e foi confundido com um de nós,um dos Thunderbolts. – Ele disse aquilo tentando esconder um remorso muito grande dos seus olhos.
- Thunderbolts? O que é isso? – Fiquei confuso.
- Logo você entenderá tudo,apenas se mantenha calmo. – Ele tirou a carteira do bolso,um ônibus chegou no exato momento. Não estava muito cheio,visto que ia para um cemitério.
Logo que entramos passamos pela roleta,não hesitei em procurar um lugar pra me sentar. Sentei-me a janela e esperei pela companhia de Matheus. Ele se sentou ao meu lado e novamente tentou sorrir,retribuí o gesto sem graça. Me virei para olhar a cidade,o asfalto,e algumas poucas árvores que restavam,pelo cenário monótono de uma cidade monótona. Já deviam fazer um cinco minutos que eu estava mantendo essa postura defensiva,então Matheus tomou a iniciativa e começou com as explicações.
- Bem,Jorge,você deve saber sobre o CRAML,mas sabe dos detalhes? Sobre o atual grupo de extermínio? Sobre o porque do campeonato ter se tornado tão nefasto? – Não pude me conter, virei meu rosto lentamente. Matheus me olhava sério.
- Para ser sincero não,e talvez nem queira saber. – Eu já havia ouvido rumores de como era,e certamente não queria participar,minha determinação se limitava ao momento em que ouvi “Livres” na sigla. Aquilo certamente não soava bem para ninguém.
- O campeonato é composto por equipes de 3 a 6 pessoas,porém,em uma batalha comum,apenas 3 podem lutar na arena. Basicamente,cada escola tem um ranking,geralmente os dezoito primeiros colocados,ou as três primeiras equipes passam para o campeonato. Se o grupo de extermínio for parte daquela escola,como é o caso da minha,os dezoito primeiros colocados depois do grupo de extermínio são colocados no campeonato.
- Não entendi bem essa última parte. O que o grupo de extermínio tem a ver com o ranking? – Eu perguntei olhando-o nos olhos.
- É simples,os primeiros colocados no ranking do campeonato,os 3 a 6 primeiros colocados no campeonato anterior formam o grupo de extermínio. O grupo de extermínio atual tem cinco membros. No caso,as três primeiras equipes à partir do sexto colocado são levadas ao campeonato. – Ele me explicou um pouco mais claramente.
- Espera,não seriam as três primeiras equipes à partir do quinto colocado? – Perguntei,sem de muito entender.
- É que o atual primeiro colocado não faz parte do grupo de extermínio. – Ele parecia ainda mais sério.
- Entendo...E quem seria essa pessoa? – Minha curiosidade eclodiu.
- Você ainda vai conhecer,ele também é o primeiro do ranking interno da escola,ele não muito popular,e poucas gente,principalmente os novatos,sabem que ele é o primeiro colocado. Francamente,fora das lutas ele é um completo idiota! – Tentou dizer aquilo sem levar a conversa a um sentido cômico. – Só que o nosso atual grupo de extermínio é impaciente,e absoluto. Você deve saber disso,mas há muitos casos de suicídio dentro da escola. – Aquilo me fez arrepiar,pelas histórias que lia nos jornais diariamente,e boatos corridos de boca a boca,em um espírito de cidade pequena do interior. – Por esse motivo eu e Bruno temos treinado,para acabar logo com o grupo de extermínio,irônico,não? – Brincou um pouco.
Ao fim do diálogo Matheus se levantou e deu o sinal de parada,iríamos descer no próximo ponto,o acompanhei até fora do veículo e atravessamos uma rua.
- Vem comigo,vamos comprar algumas flores. Apesar de ser algo inútil é um símbolo de respeito para com um amigo. – Matheus começava a se expressar mais abertamente comigo.
- Claro,apenas não vamos demorar. – Concordei.
Depois de atravessar a rua,viramos à esquerda para uma rua comercial,e depois à direita,e já estávamos na porta da floricultura.
- Espere um minuto,devo voltar logo. – Matheus adentrou sozinho a floricultura quase lotada,pensando em sua demora,sentei-me no meio-fio à frente da loja. “Isso não vai dar certo...!”,eu repetia para mim mesmo.
Matheus voltou logo com um buquê de flores,de vários tipos,ele puxou meu ombro e sinalizou com a cabeça para que prosseguíssemos.
Voltamos todo o caminho até perto do pondo de ônibus,onde subimos por uma passarela. Enquanto caminhávamos,conversamos:
- Então,onde é? – Me referi ao cemitério.
- Logo no final da passarela,não é muito longe,é? – Ele riu sem graça.
- Até que não... – E continuados no clima tenso.
Descemos a passarela e já estávamos lá: À porta de um lugar fúnebre,com um aspecto lindo. O vento batia sobre nossas cabeças,a pressão sobre nossas mentes aumentava a cada passo,a entrada do cemitério haviam apenas lápides e árvores. Matheus andava rápido e inquieto,não fui capaz de conduzir um diálogo,ele parecia ir a um lugar onde faria um grande sacrifício,é como se ele tivesse a esperança de fugir de lá.
Andamos um pouco e Matheus começou a andar por entre as lápides,eu olhava cada uma lentamente,enquanto ele parecia não se importar com nenhuma. Por um momento Matheus parou e fechou os olhos,eu também parei de andar,e então,de repente estávamos parados a uma Lápide. Matheus se virou e a encarou amedrontado. Se ajoelhando,ele colocou as flores que estavam em suas mãos no chão daquela lápide. Nela estava escrito “Leandro – amado filho,descanse em paz”,li essa frase enquanto Matheus se levantava e começava:
-Tá vendo? Bem,como prometido,vou te explicar tudo,deixe quaisquer perguntas para outrora.
-Tudo bem. – Concordei,apenas.
-O cara que está enterrado aqui,era meu melhor amigo,ele se chamava Leandro,era do primeiro ano,como eu. Leandro era dedicado em tudo o que fazia,tirava notas altas e era um garoto invejável. Ele foi um dos fundadores do clube de wrestling,por isso,com ele,eu.Bruno,Davi e o meu irmão,éramos os thunderbolts,uma equipe da nossa escola,formada pra participar do CRAML. – Ele respirou fundo,e depois de alguns segundos prosseguiu: - Contudo,Avançamos com velocidade tamanha no torneio que idéias insanas de outras equipes fervilhavam contra nós. Ainda assim,prosseguimos em ritmo demasiadamente acelerado,e quando estávamos nas semi-finais do último campeonato,eu nunca esquecerei daquele dia – parou novamente e bufou – Um homem,trajando uma jaqueta vermelha se levantou,tirou uma arma do bolso,e deu três tiros no Leandro,enquanto ele lutava.
- Nossa,o Davi era da sua equipe...o garoto morrer...é tudo muito confuso! – exclamei.
- Eu só quero entrar no campeonato de novo,pra desvendar todos os mistérios...só que os thunderbolts...por causa do Davi eles...se desfizeram...
- O que o Davi fez? – Perguntei sem entender.
-Muita coisa. – Respondeu,frio.
- E que mistérios? – Continuei.
- Uma semana após a morte do Leandro,depois de um incidente que houve com o Davi,encontramos na sala onde o Leandro estudava a jaqueta, com um bilhete,escrito “Felizes? Ou vamos ter que dar mais um exemplo? – Grupo de Extermínio”. Eu não sei por quê,mas definitivamente foram eles. – Ele parecia nervoso.
- Eu não... – Antes que eu pudesse terminar Matheus saiu correndo,não na direção que viemos,mas pra dentro do cemitério.
Corri atrás dele,Matheus parou e puxou aluem pelo ombro,era o irmão dele.
- Droga Brendo,onde você tava? – Matheus gritava.
- Por aí... – Ele soltou tranquilamente,fazendo Matheus ficar vermelho de raiva.
- Por aí? Por aí?! Você não vem pra casa a uma semana! – Matheus parecia desordenado.
- E daí? Eu não faço falta lá mesmo,e além do mais,você devia saber que eu estaria por aqui,é hoje,não é? – Brendo riu.
- Sim,é hoje. O aniversário da morte dos nossos pais. – Eu senti que ele disse aquilo para que eu entendesse a situação.
Brendo saiu friamente,olhou-me calmo,abaixou um pouco a cabeça,deixando que os cabelos negros caíssem sobre seu rosto e disse:
- A sua raiva não vai traze-lo de volta,Matheus. – E continuou andando até que desapareceu,Matheus ainda o olhava com raiva nos olhos.
- Vamos embora – Completou.
Voltamos andando em silêncio,eu tinha medo de perguntar mais alguma coisa. Andamos de novo até à passarela,Matheus parou,e começou a olhar aquele lugar,de um ponto um pouco mais alto,aproveitando a situação,me encostei junto à ele.
- O Davi...o que houve com ele...você parece falar dele com raiva. – Perguntei,com medo.
-Não é raiva dele...é que...as vezes eu tenho raiva de mim mesmo por ele ser tão forte... – Ele pareceu sério.
- Mas como assim? – Não entendi a resposta.
- Pronto pra mais uma historinha? – Me perguntou com um leve sorriso.
- Só se for a da Rapunzel... – Falei,debochando.
- Tem Wrestling em Rapunzel? – Riu.
- Conta,vai. – Empurrei a conversa.
- Bem,eu não sei se você sabe,mas o “Grupo de Extermínio”,são os dez primeiros colocados no ranking da escola,sempre. Davi era o sexto colocado no ranking,só que ele decidiu lutar pelos thunderbolts...por isso,os exterminadores se revoltaram com ele,e isso gerou vários conflitos na escola,talvez por isso tenham executado o Leandro...O fato é: Davi queria sair do Grupo de Extermínio,mas eles não deixavam,sabe que ele até lutou comigo,ordenado pelo Grupo de Extermínio? Enfim: O grupo de Extermínio,depois das finais,fez uma proposta insana,se ele conseguisse derrotar sozinho os outros 9 membros,ele poderia sair,e se tornaria o primeiro colocado do ranking,lugar que seria do presidente do Grupo de Extermínio...
- Nossa! E depois? – Fiquei fervorosamente curioso a cada instante.
- Eles disseram o dia e hora que ele deveria entrar no ringue,e no outro dia colocaram a jaqueta do homem que matou Leandro na nossa sala... Então,no dia e na hora combinadas,incrivelmente ele apareceu lá,com a jaqueta em mãos, e disse “Eu aceito!” – Ele parecia descontraído.
- E daí? – Fiquei mais e mais curioso
- Daí que ele....venceu. – Ele demorou pra dizer essa última palavra.
- Como assim? – Não acreditei.
- Ele venceu,ué. Eram lutar 1x1,só que ele estava sozinho contra 9 caras. – Ele parecia tão.....calmo.
A violência com que aquilo me atingiu foi tamanha que Matheus começou a rir,gargalhar. A cena cômica durou até que ele de debruçou contra as grades da passarela de novo,o sol queimava sobre nossos rostos e o vento balançava os cabelos ruivos levemente.
- Os raios estão mortos. – Ele disse erroneamente aquelas palavras,que entraram nos meus ouvidos como o som ensurdecedor de um grito,sinal de que nunca esqueceria.
- O que vamos fazer agora? – Perguntei, em sinal de insegurança.
- Voltar talvez,eu não sei – Ele continuava a se fazer parecer patético, claro que eu não iria dizer isso a ele.
- Não faz sentido continuar por aqui, o que você e o Bruno queriam? – Perguntei, me colocando no meu lugar.
- Assistir à algumas lutas...não sei bem, já deve fazer uma hora que saímos – Ele disse, em resposta a minha imposição.
- Vamos voltar – Sugeri – Você está bem? – Perguntei, mediante os acontecimentos daquela tarde.
- Sim,estou. – Claro que estava, é como se nada tivesse acontecido,como se uma parede indestrutível permanecesse firme pêra a verdade que a chicoteava por fora.
- Claro que está – Me virei,andando a passos largos até o ponto de ônibus,indo,talvez,parar em casa.
- Isso foi sarcasmo? – Ele continuou a se negar a admitir que estava triste.
- Não, só falei por falar. – Dei de ombros.
Saímos dali e voltamos ao ponto de ônibus,não muito longe dali,em um absurdo silêncio,quase uma tortura.Andamos e olhamos o lugar, e pensando no que fazer a seguir,perdidos dentro das nossas próprias mentes. Esperamos por mais alguns minutos,até que não agüentei:
- Putz! Que saco! – Soltei,olhando para o lado contrário ao de Matheus.
- Que foi, Jorge? – Ele olhou pra mim,segurando um sorriso.
- To com fome,to de mal-humor,e não é a minha tarde mais agradável! – Respondi. E Matheus me respondeu com um silêncio de alguns segundos,depois,gargalhou,gargalhou,e por fim: gargalhou. A risada durou tanto que eu fiquei sem graça,até que,pra minha salvação,nosso ônibus chegou. Entrei no ônibus e passamos pela roleta,procuramos alguns lugares perto da porta,e me sentei na janela,de novo. Eu olhava pras ruas e não pensava em mais nada a não ser as revelações,haveria mais alguma coisa,absurdamente importante,da qual eu não saberia? O céu apenas refletia a aflição nos meus olhos,junto com o vento saído das janelas do ônibus de forma gélida,fazendo-me,arrepiar,e de repente:chuva de verão. Sorrateira e imprevisível,sol de manhã,chuva à tardinha,talvez seja comparado à minha situação bipolar,talvez a minha vida inteira não fugisse à essa regra. O mundo inteiro parecia monótono pra mim à partir dali,por que não viver loucamente? Momentos de queda-livre emocional e de falha na respiração, batimentos irregulares, suor, a insegurança,eu adorava esses sentimentos, não por realmente gostar deles, mas pela sensação de vitória quando essa sensação é superada. A vida é uma luta, uma grande luta,se fosse fácil,qual seria a graça de ser inconsequente? Voltei à dura realidade,olhei pra Matheus e ele me devolveu com um sorriso de canto de rosto. Me virei pra fechar as janelas,não queria ficar resfriado...não podia ficar resfriado.
- Chuvas como essa são imprevisível,né? – Matheus puxou assunto,de forma confiável.
- Sim,está muito,muito,muito quente mesmo. O problema é que cai a chuva e continua quente – Resposta fútil,talvez uma resposta pra mim mesmo.
- O calor é persistente,todos deveriam ser assim – Matheus entendeu o que eu estava dizendo.
- Mudando de assunto, o que você e o Bruno fazem naquela escola? Vocês me tiraram de uma baita surra... Você praticam algum tipo de esporte,não é? – Perguntei inseguro.
- Atualmente o Bruno é presidente do grupo de pugilismo,e eu do clube de Tae kwon do. – Ele me respondeu sério.
- Tae kwon do é interessante...você gosta? – Perguntei,olhando pra janela,onde a chuva desaparecia lentamente.
- Se não gostasse não praticaria,né? – Riu.
- Eu penso em praticar algo assim mas....não são muitas as coisas que me motivam a fazer...até porque eu me machucaria todo. – Desabafei.
- Se não se machucasse não teria graça. – Acho que ele estava me cortando... – E o que você vai fazer agora? – Me olhou,sério.
- Como assim?
- Disse que não ia entrar sem motivos na escola,estou te apresentando motivos para não entrar.
- Eu até que quero,mas preciso de motivação,sabe? Aquela chama?
- O campeonato da prêmios aos vencedores... – Me olhou, rindo.
- Quanto? – Brinquei. E ele entrou na brincadeira me falando aquele número com tantos zeros que nem sei se aquele número realmente existia.
- Brincadeira, isso só é revelado no início do torneio. – Continuou. – Vamos descer.
Me levantei e descemos do ônibus,o sol queimava irremediavelmente sobre nossos corpos cansados,andando pela avenida, ele continuou:
- Sabe,o Leandro tinha uma namorada....bem...quase uma namorada. – Sorriu.
- Entendo... – Continuei.
Nesse momento chegávamos de volta à porta da minha casa,com Bruno e Emily nos esperando,cansados.
- Onde vocês estavam? – Bruno soltou atordoado.
- Vendo um velho amigo... – Matheus disse, aparentando tristeza.
- E pra onde vamos agora? – Colocava pressão, nem pareciam dois amigos.
- Não sei, pra lanchonete de sempre? – Propôs.
- Pode ser – Bruno sorria alegremente, enquanto eu me sentava perto da Emily.
- Oi. – Cochichei, em meio à possível discussão.
- Oi..o que estavam fazendo? – Eu conhecia aquela cara de curiosidade.
- Depois te conto.
- Ta bom...olha...preciso te falar uma coisa.
- Cê não ta grávida, né? – Me espantei.
- Como poderia estar? – O tom de voz aumentou.
- Deixa pra lá...o que é? – Eu disse todas essas coisas fúteis até aqui, porque estava aflito...detalhes.
- Sua mãe...te matriculou no Parque das Rosas...ela me disse agora a pouco. – Hesitou naquela frase. Naquele momento,todos sentiram um calafrio,e boom: tensão total.
- “Meu mundo caiu...” – Bruno brincou.
- Inesperado, preocupante eu diria. – Matheus continuou.
- Pronto, agora to ferrado. – Suspirei.
- Não é tão ruim...mas você vai ter que aprender a se defender. – Matheus pareceu preocupado.
- Todo mundo já está de olho em vocês porque andam com a gente, agora então...é bom que você procure um clube de seu interesse e comece a praticar alguma arte-marcial para a sua auto-defesa. – Bruno estava sério,por um pequeno momento.
- Ta bom,vai, mas primeiro preciso levar a Emily pra ver uma pessoa. – Completei.
- Precisa? - Ela continuou.
E assim foi, levei Emily para ver a Sabrina, depois as férias se passaram normalmente eu finalmente me dei conta de que estava as vésperas do grande dia,estremeci loucamente.

10 comentários:

Láu disse...

Mas eu ainda perciso de comentar? xD

Eu ja disse, e continuo a dizer que está fanfic esta maravilhosa.

E se demoras muito a actualizar, eu mato-te ^^

- Ps: Que historia é essa da minha sobrinha e do Emo no sofá ? XD

Unknown disse...

Assim como a Lau-chan disse, eu amo os textos que voc escreve omouto fofinho e querido da onee =3

E boa sorte com a Emy-chan! Estarei torcendo por voc! õ/

E continua a escrever, cada palavra sua é tão profuuundaaa *-*

Ayumi disse...

A historia tá muito boa =3
Bem divertida e criativa \o/
Continue sempre a postar os capitulos ^^

Akagitsune disse...

nyon *-* amei esse cap, mesmo sendo um pouquinho mais longo e_e

Uh, tia Lau não gostou nada do sofá xadrez e____e'

Gabrielle Correia disse...

Continuaaa *-*...

Ta muuuito bom cara!

BlueGirl disse...

Nossa, a história fica melhor a cada cap *-* A história dos thunderbolts foi bem planejada, e me deixou realmente ansiosa para o próximo capítulo x3 Continua assim!
Kissus! =*****

Anônimo disse...

Nossa, teve umas coisas bem dramáticas nesse capítulo. Legal, parece que estamos chegando a um clímax! Embora as informações que a história está passando estejam vindo de uma forma um pouquinho confusa e bagunçada, hehe.

Notei certa influência de Katekyō Hitman Reborn!, estou enganado? Hehehe, legal!

SaahOnline disse...

Adoreeei *-*
A história está muito louca. o cap me deixou muuito curiosa , e ansiosa pro CRAML .

Muuito loko mesmo *o* morrendo de curiosidade aki. ve se larga a preguiça de lado e posta logo o proximo cap tah? (:

Bye Sah õ/

Mandy disse...

Adorei esse capitulo q ficou com um ar misterioso e dramatico.

Anônimo disse...

eu to simplesmente amando a história *0* muito muito bom mesmo mesmo