Asas de papel - Capítulo 8

E mais um dia escolar monótono começava, hoje teríamos nossas primeiras aulas, isso seria ótimo! Eu mal podia esperar para interagir com os meus colegas de classe, mas acho que isso é típico de uma escola nova, expectativas. Não era o que eu pensava. Logo depois de entrarmos em sala – eu e João – começamos a ser fitados violentamente enquanto éramos mentalmente agredidos. Nos sentamos no mesmo lugar do dia anterior e para a minha surpresa a garota loira, que aparentava revolta, estava indignadamente sentada à minha frente, quando percebeu que eu estava me olhando, ela se virou rapidamente para frente e me sentei, soltando uma leve risada. Sinalizei com a cabeça para João, forçando-o a se sentar no lugar onde pensamos anteriormente, desse modo, se alguém se metesse com um de nos dois, o outro podia abordar, para nossa sorte isso nunca aconteceu, mas eu ainda tinha medo. João se posicionou para se sentar quando o garoto que o encarava anteriormente passou na direção contrária, João, de cabeça baixa,não percebeu que o garoto vinha, fazendo-os se esbarrarem em sinal de rixa, pelo menos para ele.

- Desculpe. – João o ignorou e foi direto à mesa, como se nada tivesse acontecido, tirou sua mochila e estava pronto a se sentar, quando o garoto, irado, respondeu:
- Desculpe? Por esbarrar em mim ou por já chegar na escola amigo dos “caras do alto”? – bufou, furioso.
- O quê?  - João não entendeu bulhufas.
- Ta de sacanagem comigo? – O garoto continuou. Me levantei vendo aquela confusão, e me intrometi.
- Em primeiro lugar, que ele não tem que pedir desculpas pelos amigos que tem. E depois, arrume um motivo descente pra puxar alguém pra briga seu imbecil. – O circo estava cheio de gasolina e um palhaço medonho tinha os fósforos -  “É, agora ferrou.” - pensei comigo,mas permaneci frio.
- Cume que é? – O garoto se irou.
- Você ouviu não ouviu? Procura outro garoto pra comprar briga. – Me sentei de volta, o garoto parecia pronto pra me desferir um golpe, até que, com raiva, ele se virou e resmungou:
- Só porque o garoto foi confundido! O que o Matheus ta pensando? Que vai trazer o Leandro de volta? – De costas pra mim, pude ver claramente a garota de cabelos loiros se levantar num pulo impulsivo, desferindo naquele garoto um soco que o fez cair sobre a mesa dele, desordenado.
- Cala a boca, Carlos! – A garota loira lacrimejava enquanto gritava, todos pararam e olhavam fixamente para ela, enquanto ela cobria o rosto e corria. Corria para onde eu não alcançava, não só fisicamente. Tive um certo medo. O garoto se levantou e balançou a cabeça, e continuou resmungando. “A culpa é toda sua”, aparentemente ouvi. Não sabia o que estava pensando, apenas me sentei e assisti às aulas, tentando esquecer o ocorrido.
De repente o sol matinal de resto de verão batia sobre meu rosto, e eu sentia o vento me refrescar, “Já é quase hora do intervalo”, pensei. Não conseguia me concentrar. Foi quando vi, por aquela janela, a garota que não assistia à aula alguma parada, encostada sobre uma parede, olhando para o gramando, de braços cruzados.
- Acho que eu deveria me desculpar. – Sussurrei para mim mesmo enquanto segurava um lápis, girando-o e olhando para a minha mesa, com o olhar distante.
- O quê? – João me olhou com uma sobrancelha levantada, virando-se sutilmente da carteira, olhando-me. Voltei a mim, com um susto.
- Ah, nada, só pensando alto. – Disfarcei, balançando a cabeça em sinal de confirmação. Confirmação não sei de quê.
Esperei que o sino soasse para sermos dispensados o mais rápido possível. Me levantei rapidamente para poder cumprir o que prometi a mim mesmo, ao passar pelo garoto – o agora chamado Carlos – senti o ar gélido e ignorante da figura. Me apressei e deixei João pra trás, senti que estava sendo seguido pelos punks amigos de Carlos, desci as escadas com minha pouca agilidade, quase tropeçando sobre meus próprios pés. Corri para alcançar a garota, antes que ela pudesse sair de lá. Corri pelo pátio sendo olhado por todos os alunos, era anormal aquela movimentação repentina, até mesmo para aquela escola grotesca. Preparado para dobar a esquina e me desculpar com aquela garota, parei, respirei fundo. Foi quando ouvi soluços errôneos, me apavorei, ela estava chorando – e eu esperava que não fosse por minha culpa – eu não suportava, e anda não suporto, ser odiado pelas pessoas. Recuei um passo, assustado, então ouvi a voz de Matheus, mais uma ver pronto pra me salvar. Estranhamente sua voz parecia à vontade, e ao mesmo tempo tensa. Tensa porque ele provavelmente já sabia que eu estava envolvido, tenta porque ela também estava com medo, e acima de tudo, tensa porque ele não queria causar nenhuma baderna.
Era tudo ou nada, finalmente parei para prestar atenção naquelas palavras:
- É difícil sem ele não é? – Matheus falou, não podia me conter, subi  três lances de escadarias de aço próximas e entrei numa espécie de almoxarifado, ainda com uma parte das escadas de aço, me encostei perto da janela e me pus a ouvir.
- Me desculpe por isso tudo Matheus... – Pude ouvir soluços com mais frequência. Houve uma pausa, e depois de alguns momentos dentre lágrimas e soluços, ela continuou. – Não estou aguentando mais...
- Você vai sobreviver, apenas aguente firme, ta? – Matheus falou, descendo da pequena grade onde estava sentado, e se aproximando dela, que estava encostada perto de onde eu assistia tudo. – Eu estou aqui....lembre-se disso... – Pude vê-la se jogar nos braços de Matheus, quando uma lágrima desceu de seu rosto, expressando a tristeza resguardada. Matheus acariciou a cabeleira loira da garota, que também começou a chorar. – Vou estar aqui, como sempre estive... – Matheus rapidamente se afastou, como se tivesse acabado de perceber que havia matado alguém, ou ferido mortalmente... – M-me desculpe... – Ele recuou mais um passo, e eu assisti a tudo, espantado.
- Não tem problema Matheus, você não fez nada de errado. – A garota retrucou.
- Não, Anna. Ele era meu melhor amigo, me sinto traindo a confiança dele. – Matheus se afastou ainda mais, criando uma parede de isolamento mental entre ele e a garota.
Matheus se virou com aquela palavras e começou a andar, colocando as mãos dentro dos bolsos e deixando a brisa – rara de verão – agitasse seus cabelos enquanto ele sumia lentamente, Anna – agora assim chamada – desmoronou a chorar ao vê-lo indo embora, como se fosse pra sempre. Suspirei e me senti quase que aliviado, queria sair dali tão logo quanto entrei.
- É feio ouvir conversas atrás da porta. – Me arrepiei e meu coração disparou quando eu ouvi aquele sussurro, em meio àquele lugar negro e vazio. Me virei bruscamente e vi o sorriso debochado e surpreso de Davi.
- Quer me fazer ter um ataque? – Cochichei, em um tom enfurecido.
- Talvez. Só que não deixe ser seguido da próxima vez que fizer isso. – Eu tinha me esquecido completamente de checar se estava sendo seguido. Quando a ficha caiu, fiquei envergonhado e recuei um pouco. – Mas diz, o que cê quer? – Perguntei, levantando uma sobrancelha.
- Preparei umas coisas que eu acho que você deveria ler, estão num envelope lá na sala do clube, passe lá pra pegar depois. – Aquilo soou estranhamente insano. Coisas que eu deveria ler? Por que diabos ele não me diria pessoalmente?
- Por que é perigoso. – Me assustei ao ouvir a resposta. – Sei que está se perguntado isso. É perfeitamente normal. – Lembro me tentar pronunciar algumas palavras que soaram confusas, até pra mim. Depois disso parei e pensei no bloco de informação que me vinha à tona. Parei e depois continuei, pausadamente:
- Tudo bem, se eu puder eu vou pra lá...
- Mas não vá hoje...você não. – Ele mudou sua expressão para um expressão séria que e fez tremer de medo.
- P-por quê?! – Me espantei.
- Aquele idiota do Carlos está planejando pegar você e o João, eu os ouvi conversando no caminho pra cá, enquanto vinha atrás de você. Eles combinaram de ir atrás de você no clube, por isso, depois da aula, eu estarei lá, e você vai pra casa. – Ele se impôs como se cuidasse de uma criança, e em parte, cuidava.
- E daí? Eu posso encarar ele! – Eu gritei, não importava, já que só havia nós dois ali. – Eu sei que posso! Ele não é tão assustador assim!
- Não, você não pode. – Davi olhou pra um canto como se lamentasse algo. – Você já apanhou dele uma vez. – Senti um frio bizarro subindo por mim, enquanto meu olhos automaticamente se arregalavam, e eu comecei a suar frio. Que droga! Por que as coisas sempre acontecessem assim?! Não consegui guardar essas palavras só pra mim. – Você quer dizer que...!
- Exato. Carlos estava naquele turma que te agrediu no fim do ano passado.
- Ah! Agora sim eu tenho um motivo pra deixar ele me encarar, e começar uma briga.
- E você acha que ele vai fazer isso sozinho? Acha que ele vai ter uma luta justa? Ele não vai pegar leve! Ele não vai atrás de você sem pelo menos mais dois caras!!!  - Davi jogou aquelas palavras como um balde de água fria sobre mim.
- Argh! – Dei as costas a ele e comecei a descer as escadas, ou melhor, pulei um lance de escadas e corri o resto. Voltei pra sala de aula, sem nem prestar atenção no que aconteceu. Andei pelo pátio e de repente, me virei de costas. Não vi nada além do prédio, do lugar onde estávamos, e a janela da sala 32-B aberta. Bufei de raiva e continuei andando de volta. Avistei a minha “Turminha” sentada num banco qualquer. Eles me cumprimentaram, eu apenas soltei um “Não to com saco!”. E continuei andando, fui ao banheiro lavar o rosto, cabeça quente. Abri a porta quase que a batendo e enganado a mim mesmo enquanto virava para o espelho, em fúria. Eu me sentia impotente, uma criança de colo andando no meio de uma avenida. Abri a pia e peguei um pouco de água, será que isso se tornaria algo rotineiro? Eu não gostava daquilo, eu odiava me sentir fraco, odiava perder. E quem não odeia? Soquei com violência a parede, pra falar a verdade nem doeu. Mas passei a outra mão sobre o local em que acertei a parede, ou em que a parede me acertou, não sei ao certo. Mesmo assim estava com raiva, muita raiva – não sei de quê, de quem, ou por que, mas estava – e repentinamente se senti melhor quando vi João entrar pela porta do banheiro me fitando, com uma sobrancelha levantada. Percebi que eu ainda cuidava da mão “ferida”, me envergonhei e logo assumi uma postura de mais confiança.
- Sei, senhor raivinha.
- Cala a boca, Jão.
- Sério?
- Não. – Me virei com o rosto ainda molhado e comecei a andar em direção à porta, com o rosto ainda molhado. Parei, peguei uma toalha de rosto qualquer me sequei, imperceptivelmente parando pra pensar. Eu ia pagar pelos meu pecados, e eu nem sei que pecados. Voltei a mim e continuei andando, bati no ombro de João em um sinal de “Vamos lá”. – Vambora.
Voltamos ao pátio e eu pedi desculpas a todos, me acalmando aos poucos, mas eu podia sentir a calamidade vindo, minha pele tinha medo, cada mísera parte do meu ser temia a tempestade de emoções e o choque emocional que estava por vir. Algo grande ia acontecer, eu sabia disso. Incrivelmente, voltamos a sala e o tal garoto não estava lá. Mas João – como sempre – deu um jeito de me ajudar a me manter calmo, e tudo mais. Até que a aula acabou. E agora? E agora é que o show  começa. Estavam todos na minha sala: Lolly, João, Emily e Sabrina se faziam presentes.
Primeiro, eu devia tomar os cuidados necessários, eu sabia que eles iriam atrás de mim, senti meu celular tocar, trêmulo, atendi.
- Alô?
- Jorge, calma, é o Matheus, já sei de tudo. As circunstâncias mudaram, parece que ele está indo atrás de você! Peça pra que a Lolly venha pegar o que o Davi queria te entregar. Ta comigo, to no clube. Não tem problema porque eles não estão aqui.
- Pôxa! Será que de pra parar com essas informações corridas por cinco minutos?! – Ignorei o pedido. – Ta bom, vai! – Desliguei o telefone quando ouvi uma leve gargalhada de Matheus. Agora eu acho que tudo estava perdido.
- Lolly, será que dava pra você ir pegar uma coisinha com o Matheus pra mim? Sala 32-B, pode ser? – Perguntei, acanhado.
- Claro! Já volto, então.
Meu mau pressentimento aumentava à medida que cada minuto se passava, cinco minutos se passaram e João não se aguentava mais. Como resultado, ele soltou:
- Vou procurar a Lolly. Tô com um mau pressentimento.
- Então vai, eu não agüento mais ficar nessa, daqui a pouco vou atrás deles também...
Assim que disse isso ele se pôs a correr, correr e correr como um louco. Meu celucar tocou pela segunda vez. Eu estava aflito.
- Jorge, nós saímos do clube, eles não estavam lá, estamos procurando pela escola... – Me espantei ao ouvir o grau de importância que aquilo tinha tomado.
- Ta bom... – Desliguei na cara de Davi. O coitado deve ter ficado fulo comigo.
Oito minutos já haviam se passado. Isso já estava sinistro desde o começo, mas já tinha passado de um nível aceitável. Matheus agora se fazia presente na sala, assim que ele entrou eu apontei pro meu nariz e disse:
- Cara, que cheiro é esse...?
- Não sei, que cheiro...?
- Parece que tem alguma coisa queimando.... – Eu e Matheus nos entreolhamos e ficamos pasmos por alguns segundos. Depois, começamos a correr pelos corredores loucamente. “Não pode ser!”, eu pensava, enquanto via as duas garotas nos olharem assustadas. O corredor em linha reta. No final, uma janela, à direita, uma escada. Corríamos insanamente. Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo! Eu não acreditava que...
- Pega o extintor da escada! – Matheus gritou, quando chegávamos ao final do corredor. E eu o vi pular janela afora como um gato. “Não! Ele não pode ter pulado!!!”, pensei. Me virei nessa corrida e vi o extintor. Parei e peguei-o, enquanto sentia o cheiro da fumaça ficar maior e maior, e se propagar por aquele lugar. Comecei a correr de novo e vi a fumaça saindo da casa onde eu posteriormente havia ouvindo uma simples conversa entre amigos. Um dos punks amigos do desgraçado do Carlos fechava a porta e ia em direção ao prédio, a sala 32-B, tinha que ser.
- Droga! – Gritei, ao chegar. Matheus se aproximava correndo, trazendo outro extintor.
- Ta fechada, não põe a mão, pode estar quente. – Matheus apontava pra fechadura que me separava de João, ou Lolly. Ou ambos. – E pode estar trancada.
- Não está quente, e não está trancada. Foi fechada agora. – Abri a maçaneta sem dó, estava morna, sinal de que as chamas se propagaram até ali.
Começamos a jogar os extintores e as garotas se aproximavam. Não tínhamos como parar agora.
- Ah meu deus! – Sabrina gritou enquanto olhava a pequena casa em chamas.
- Vai pegar um extintor ou sei lá! – Emily apontou pra alguma direção.
- Não vai adiantar muito, só temos que tentar amenizar o fogo na entrada! – Falei enquanto olhava Matheus. Fui interrompido. Fui interrompido não só por uma tosse sufocada, mas por um “Ah não!” de Matheus enquanto olhava o lugar. João se aproximava. Ele estava bem, Lolly estava jogada, por algum motivo, em seu ombro, enquanto eu ainda não podia ver o seu estado. Mas eu pude ver. Pude ver claramente suas mãos queimadas. Lolly estava bem, mas João....eu estava preocupado.
- Isso não...! – Falei, mas fui interrompido.
- Cuidem....dela....p-por favor... - João desmaiou. Deixando Lolly no chão e logo depois se ajoelhando, com as mãos queimadas na frente. Tombando-se para o lado e deixando os óculos fugirem ao seu rosto.
Não fazia dez minutos desde que Lolly foi buscar o que eu havia pedido. Ela estava desacordada. João ao estava bem. Ele não desmaiaria em menos de três minutos, isso quer dizer que eles foram desmaiados antes de que começasse a pegar fogo. O fato foi confirmado, confirmado por um manuscrito, em cima do tal envelope, que estava no chão. Apenas dizia “Te esperamos na 32-B”. Fiquei furioso. Eu definitivamente ia atrás deles.
Matheus me olhou com seu olhar furioso, agora parecia o olhar de seu irmão.
- Vá pega-los, eu cuido dos dois. – Finalmente meu sorriso insano apareceu. Apareceu porque eu gostava da situação, apareceu porque a insanidade tomou conta de mim por fim. A fúria me subiu à cabeça como as chamas que queimaram as mãos de João. Eu corri. Não corri como de costume, eu corri como quem corre da morte. Eu cheguei rápido – e ofegante – àquela sala maldita. Eu não tinha paciência pra esperar. Podia ver que a porta não estava totalmente fechada. Chutei-a com toda a força o momento. Vi um garoto cair no chão com as mãos sobre o nariz. Vi o tal Carlos rindo da situação, como se tivesse feito uma grande piada. “Mata ele” “Ninguém vai nem perceber” “Muita gente mataria por menos que um amigo. E ele detonou com o João. Ele atingiu teu ponto fraco”, “O sangue tele no teu corpo vai te fazer sentir melhor”, “Mata vai, mata...eu quero ver a cara dele gritando....eu quero ferrar com ele”, foi tudo o que eu pensei.

4 comentários:

Akagitsune disse...

ah, mano! Um dos melhores capítulos que já li *¬* Até eu senti sua fúria agora, e se pudesse batia nesses caras por terem se metido com o João òwó9

VAI LÁ JORGE, ACABA COM ELES o/~ *agita bandeirinha*

BlueGirl disse...

Nossa, ficou muito bom *-* Eu realmente fiquei com muita raiva desses caras agora ¬¬ E estou anciosa para o próximo cap! *O*

Kissus! =******

SaahOnline disse...

Adorei o capítulo *-*
Cada cap fik melhor ki o outro.
A história está mto interessante /o/

Posta mais.

Bye õ/ Saah;**

Ayumi disse...

Realmente foi um dos melhores capitulos, me assustei com a casa pegando fogo i-i
Esperando o proximo cap. ^^